segunda-feira, 4 de agosto de 2014

terça-feira, 3 de junho de 2014

Missão

E no meio disso, ansia e sufoco me deixaram triste e desesperado na galeria. Tive que conter o choro dentro do banheiro, porque não é uma atitude profissional, uma exposição de sentimento como esta. Sai da galeria na hora rotineira com o pretexto de que ia almoçar. Ainda sonolento da noite mal dormida, me deitei no banco de uma praça próxima e esperei o tempo passar um pouco. Perto de entrar no sono, uma mulher aparentando estar no meio dos seus 30 anos, levemente desgastada pelo tempo, pede para sentar-se ao meu lado. Eu estava anestesiado e sua iniciativa de se aproximar me deixou levemente curioso. Ela falava coisas meio fora de seqüência; conseguira um serviço como pintora, e disse que faria o certo para não chegar atrasada no local do trabalho. Havia anotado o endereço do lugar em um papel feio de publicidade. Também disse que morava ali perto e que precisava comer batatas fritas. Tirou uma calça da bolsa e me perguntou se estava bonita e se combinava com seus sapatos. Na maior parte do tempo eu respondia siliabicamente, mas ao fundo estava pondo atenção ao que falava. Ela não estava cheirando tão bem, sacou um cigarro e uma cerveja da bolsa e disse que a missão do dia, era fazer as pessoas sorrirem com pequenos elogios.
-sua bolsa está bonita moça! Disse a uma moça.
-eu gosto do seu estilo rapaz! Disse a um rapaz.
Atirava seus cumprimentos a transeuntes que por suas vezes, se sentiam agradecidos. De fato ela conquistou um punhado de sorrisos.
Uma das poucas vezes que resolvi esboçar frases mais completas foi quando eu disse que fazer alguém sorrir, por mais escondida, boba e humilde que seja ideia, talvez seja uma das coisas mais importantes a se fazer nessa vida. Provocar as pequenas felicidades cotidianas.
Depois, descobri cortes em seu corpo, dentre eles, um no braço esquerdo que chamava atenção pela largura da cicatriz próximo ao pulso, cercado de tatuagens desbotadas de desenhos padrões de catálogos. Com uma breve observação simples, ela descobriu que eu era canhoto. Por certo; eu havia anotado a lista da feira do dia anterior no braço direito e a tinta da caneta ainda não havia se apagado totalmente.
As vezes ela oscilava com as palavras e repetia certas informações. Não estava ébria nem sóbria. Estava animada por fora mas lastimada internamente.
Pensei no que a machucava por dentro, mas não havia tempo suficiente para descobrir. Nem tão pouco fui tão aberto como ela foi desde o momento de sua chegada. Depois de um breve tempo, ela se levantou, disposta a distribuir sorrisos “de orelha a orelha” segundo suas palavras e saiu para comprar batatas fritas. Se chamava Sara e despediu-se dizendo que eu era seu amigo.

Eu voltei a me deitar, protegendo meu rosto do sol e torcendo para que Sara conseguisse cumprir sua missão diária, onde quer que seja.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

quinta-feira, 27 de março de 2014

e,

mais uma outra. Só de aproveitar essa coisa nossa :)

relações de minhas redundâncias com os rascunhos.

Os rascunhos sempre se tornavam mais belos projetos do que os projetos.
fui perceber isso depois de um tempo.
era um exímio riscador.
quando esboço, não alcanço planejamento, nem chego onde tantos outros querem que eu chegue. acabo ali mesmo, na metade.
é fugaz e escapa com rapidez se me permitem a redundância.


segunda-feira, 24 de março de 2014

One Shot

Significado de Balsâmico

adj. e s.m. Que tem as propriedades, especialmente o odor, do bálsamo.
Característica do que é perfumado, aromático.
Aromatizado com um tempero ou uma erva: vinagre balsâmico.
Figurado. Que possui a qualidade de amenizar, confortar.
(Etm. bálsamo + ico)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

fxhjgk gh gc dzdkjp9765fr;'''/

-tentou?
-sim.
-porque?
-(pega uma folha de papel e rabisca algo ilegível).
-o que é isso?
-não sei.
-hã?
-a resposta; não sei.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

e que iriam

estava no quintal da casa, sentado na mesa, pé no banco e tinha acabado de conhecer sylvester, que as vezes passava pedindo carinho. com um cigarro baixo na boca, não sabia tocar e cantar e fumar. nem assistir filmes inteiros. mas pelo menos ainda dava pra usar meu chinelo lá fora. e andar só de casaco leve. recém-mudado, levemente empolgado, mas também um pouco zonzo. ledo engano. para o que estava a me esperar. alguns poucos passos para cair novamente em minha espiral.
a espiral que não me deixa viver.

toco meia música, chateado com a cabeça numa brincadeira boba. entro em casa porque pensava que aquilo era frio e que estava talvez descontente com a ausência. haha, nota baixa para mim; não ali.

em algum outro quarto da cidade, ela devia estar organizando suas coisas, pregando suas fotos preferidas e também a espera de coisas que nunca sabemos quando vão acontecer. e que iriam/

hoje,

pensei que ia me entregar.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

I do nothing.

give me your smile

estava marcado.
era naquela mesa do canto, que marcamos de sempre nos conhecermos. 
hora marcada.
começávamos pela lingua em que tínhamos menos intimidade. todas as vezes. e nos chamávamos uns aos outros pelos nomes de cartório. 
ao fim, já éramos românticos latinos e falávamos os nomes que nos eram bonitos. 

queria poder sempre renovar o gatilho das coisas que faziam nos contentar de sorriso aberto.

reciclar o início do que era felicidade. 
não vá embora, por favor.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

prisioneiro dos sentinelenses

Explorador que era, volta derrotado a sua terrinha dos desconhecidos.
O vislumbre com o rei e a civilização foram motivações suficientes para o regresso.
alvejado por flechas, foi morto pelos sentinelenses.

Uma folha com sua foto e seu nome era o último papel que podia lhe reaproximar dos antigos íntimos.
Nas linhas em suspenso da máquina de escrever da delegacia, o escrivão semi-letrado e com família pra acordar pela manhã, estava fora e não pôde registrar a queixa de roubo em más escritas palavras locais.

"A VITIMA, ALEGA ROUBO DE SUA VIDA..."
poderia ter sido um provável começo do boletim de ocorrência.

O corpo? os sentinelenses devoraram.
Sumiço comprovado, porém sem as provas do desenrolar da trama, o caso foi arquivado.


domingo, 19 de janeiro de 2014

cerimônia de regresso

não preciso ser anfitriao
acho muito mais tranquilo eu reservar pequenos momentos com as pessoas
e ir me reencontrando aos poucos
é muito mais intimo e sincero
do que ficar disperso numa "cerimonia de regresso"

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ignorância é uma dadiva. Não alcancei essa dadiva e continuo ignorante.

Rodriguez era um médico com quem eu costumava sair nos nossos dias errados.
Não era pra se lembrar de uma ressaca num dia domingo. fazíamos questão de ser perturbados por ela nos dias menos pares possíveis.
E depois, lá estava eu esbofeteado na cama até a hora que me fosse conveniente cumprimentar a sociedade. Para ele, talvez fosse melhor nem dormir.
Acho que ele nunca se chocou muito com as coisas. dava valor a sua maneira, era bem disfarçado nesse sentido talvez. se tivesse devidamente ébrio, daria seus sinais de consideração. Sempre de bom humor. Deve ter sido aquele clareamento dental que o safado fez, que confunde minhas impressões.
.
Eu sempre fui essa coisa saída de uma peça grega. pós traumático sem trauma. Uma baba. Baba mesmo; saliva, cuspe. Ao longo de um tempo desenvolvi duas peculiaridades que envolvem saliva no meu corpo.
1-me engasgo facilmente apenas com saliva na boca.
2-quando bebo água, as vezes meu corpo reage involuntariamente tentando expulsa-la. deve ser pensando que é veneno ou cachaça.


raro

Troco minhas figuras com ela.
Ficamos a vontade para desfrutar esse momento de intimidade que é nosso.
Às vezes eu trocava figura repetida. talvez por falta de opções próprias. Mas era sempre a minha melhor, várias vezes. Replicada. Mas ela aceitava. Recebia com carinho e colava preenchendo vários espaços do mesmo eu. Sim, era eu.

Recíproca verdadeira.

A madrugada rasga, porque eu não sei até quando ela vai querer completar o álbum dela com as minhas, porque eu sempre quero completar o meu com as dela.

A madrugada,

me rasga.

domingo, 5 de janeiro de 2014

ele sempre foi afiado com o que diz


O Agente – Mesmo que um bebê nasça morto, nós consideramos o seu nascimento.
A Voz – Mas ele não viveu.
O Agente – Viveu uma vida intrauterina. Para morrer, é preciso viver. A Voz – Mas isso é horrível, é triste.

O Agente – Isso é sublime. Ele tornou mãe a mulher que o pariu. E ela sempre dirá: meu filho “nasceu” morto. Isso o torna um ser superior, quase um santo. Viveu sem macular-se com o mundo. Pulou uma passagem de sofrimento e desilusão. Foi da não existência a não exis- tência protegido no interior de sua mãe. Puro (Mutarelli, 2009, p. 80). 

grupo-controle

os pacientes da Ala 1, vêm apresentando o mesmo comportamento que a amostragem da pesquisa do ano passado. 
 
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sábado, 4 de janeiro de 2014

não

não.

prefiro começar de forma enfática.
começar pela pergunta errada é tão errado como cutucar a própria ferida, que eu vós indico a parar aqui. sei que pode. te dou uma folha em branco para isso.














seria presunçoso e até alimentado demais de dramaturgia continuar a escrever depois de ter assumido um adeus. 

não ponha culpa. isso não existe no mundo dos autocrimes, pelo menos não no meu.

eu acho que foi de não me amar o bastante.

se queres buscar coisas, motivos?
posso te dar uma vírgula, reticências e quem sabe algo de mais valor, 
um ponto final.


(pensamentos durante a lua)